renovar-se-á

um reflexo do que já foi, do que ainda é e também do que será
uma nova imagem velha, renovada entre si, misturada, confundindo-se
novas utilidades para velhos reflexos, numa abstração de velhos em novos
ecos

uma conversa dura

de frente pra ela, a parede
eu olhava e ela me olhava
expressávamos-nos, entendíamos-nos
mas tinha uma coisa que era incompreensível
pra mim e pra ela
uma dúvida
quiçá eterna

sobras

sobra aqui, sobra ali
sobra lá, sobra aculá
pra todos os lados
onde derramar o caldo?

o pensamento e a palavra

semelhantes, os motivos
longos, os caminhos
os atalhos confusos.
muitas tentativas
poucas conquistas
num salão de estudantina.
de tantos que eram
de tantas que eram
perderem-se na dança
ele e ela.

era apenas um guarda chuva...

a chuva chegou e eu saí, branda, eu e a chuva. pra lá e pra cá, íamos até encontrar o abrigo, eu e meu guada-chuva. chegamos, susto à primeira vista, tudo estava bem diferente. dúvida, estou no lugar certo? fui convencida que sim, aproveitá-lo-ei, então. guardado ali, embaixo da pia, ficou o meu guarda-chuva. a chuva que era branda virou tempestade junto comigo, respirei pedindo calma, e ela devagar devastou, molhou, até que acabou. o tempo passou e eu já podia ir embora e foi o que fiz, porém, embaixo da pia ficou o meu guarda chuva, sem eu perceber. me lembrei quando já estava longe, e agora? busco outro dia, pensei. mas talvez pela falta de necessidade daquele momento, que ja fazia sol, não consegui tê-lo de volta. mas tudo bem, era apenas um guarda-chuva...

e mais uma vez ela se refugiou no cinema...

chegavam horas em que ela não queria mais procurar nem achar, estava cansada e desiludida. o que ela queria parecia impossível, não entendia, porque simples parecia. chegava a pensar que no mundo só ela procurava por isso, como se seguisse contra o fluxo. faltava-lhe força e ânimo. por ser mulher, muitas vezes se iludia e alimentava suas fantasias, aproveitando sem pudores ou jogos de guerra, paz ela queria. facilmente se envolvia, pra ela era simples, fluia, e se fluia era bom, não precisava de freios. nesses momentos não se arrependia das ilusões, mas saudade também não sentia, porque estava agradecida. não era culpa sua, ela sabia, pois tentava sempre, mas nesses momentos, desistia.

espelho

de frente pra você
olhando e tentando ver
mas quando está só eu e você
me poupe de ter que dizer
não precisa esconder

do manual da cabeça maluca

atenção!
não se iluda

monolito

silêncio

joão de deus

"a vida é o dia de hoje,
a vida é ai que mau soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa.
a vida é sonho tão leve,
que se desfaz como a neve
e como o fumo se esvai;
a vida dura um momento,
mais leve que o pensamento..."

definitivamente, não são os números

perfil matemático
personalidade moldada
individualidade gritante
prova
trinta minutos
pense rápido
dados lógicos, ou não
resultado
4 = 0
reprovação
tchau
até amanhã
no mundo dos sonhos
dados lógicos não, ou sim

do nada ao nada

vem mais
esforço, dedicação, desafios, escolhas, percurso...
pra, após longo tempo, longa jornada, inúmeras ações dramáticas
uma alegria, mesmo que efêmera
após uma sessão
um mergulho
o fim

a hora da estrela (diálogo do filme dirigido por susana amaral com roteiro baseado no livro de clarice lispector)

"olímpico
- eu uso a palavra cafetina porque não tenho medo das palavras. você sabe o que é cafetina? você tem medo das palavras?
macabéa
- sim, tenho sim."

caio fernando abreu

"você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo."

consulta

quando alguém está fluindo o si mesmo não pode existir, catarse
toda jornada é do nada ao nada, potencialidade pura
há certa possibilidade que a mente o iluda, preguiça
uma união com a alma gêmea interior, integral
das suas profundezas às alturas, dimensões

a noite anterior

na rua um zumzumzum se ouvia
pra cima e pra baixo os passos iam e vinham
olhos perdidos à procura varriam
a amiga se despedia e pro encontro já ía
aquele, meu nome esquecia mergulhado em outra fantasia
os vizinhos barulho faziam, numa festa de sons e muita cantoria
o calor enrubescia o rosto que sorria, respondendo um olho que mira fazia
alguns um rumo certo tinham e se não, logo, adquiriam
pois, a noite ardia
era subjetivo mas todos compreendiam
o céu fervia, a lua derretia, as estrelas cadentes
eu sentia mas não me envolvia
suando, dormia

paulo leminski

"eu

quando olho nos olhos,
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora.
quem está por fora,
não segura.
um olhar que demora
de dentro do meu centro,
este poema me olha"

trecho do livro: o ano da morte de ricardo reis, ed. caminho, 14.ª ed., p. 396 de jose saramago

"talvez isto é que seja o destino, sabermos o que vai acontecer, sabermos que não há nada que o possa evitar, e ficarmos quietos, olhando, como puros observadores do espectáculo do mundo."

tudo sobre minha mãe (cena do filme com roteiro e direção de pedro almodóvar)

"Por causas alheias à sua vontade duas das atrises que diariamente triunfam sobre este cenário não podem estar aqui hoje. Coitadas. O espetáculo será cancelado. Quem quiser, receberá o dinheiro do ingresso de volta. Quem não tiver nada melhor para fazer já que vieram ao teatro, é uma pena irem embora. Se ficarem, eu prometo divertir vocês com a história da minha vida. Adeus. Eu lamento. Se eu entediar vocês, finjam que roncam. Assim. rrrrrrrrrrrrrr. Eu captarei rápido e não vão ferir meus sentimentos. É sério.
Chamam-me de Agrado porque, a vida inteira, só pretendi tornar a vida dos outros agradável. Além de agradável, sou muito autêntica. Olhem só que corpo! Tudo feito sob medida. Olhos amendoados: 80 mil. Nariz: 200 mil. Jogadas no lixo, no ano seguinte ficou assim depois de uma surra. Sei que me dá personalidade, mas, se soubesse antes, não mexeria nele. Vou continuar. Peitos: dois, porque não sou nenhum monstro. 70 mil cada um, mas, eles já estão superamortizados. Silicone nos lábios, testa, maçãs do rosto, quadris e bunda. O litro custa umas cem mil. Calculem vocês, porque eu já perdi as contas. Redução de mandibula: 75 mil. Depilação definitiva a laser. As mulheres também vêm dos macacos. Até mais do que os homens. 60 mil por sessão. Depende da cabeluda que se é. O normal é entre duas e quatro sessões. Mas, se é uma diva do flamenco, precisará de mais, claro. Bem, como eu estava dizendo sai muito caro ser autêntica. E, nestas coisas, não se deve ser avarenta. Porque nós ficamos mais autênticas quanto mais nós nos parecemos com o que sonhamos que somos."

catarse (cura = liberdade)

expressividade que a superficialidade recalcou
movimentos que o medo congelou
não era uma questão de escolha
era uma imposição natural

um bonde de emoções pedindo vivência
um universo indisível pedindo interpretação
alguma relação que explicasse tamanha putrefação
sensibilidade e solidão

não conseguia expandir
de um lado pro outro
batendo cabeça
lascando seu próprio corpo

numa jaula de carne e osso
alimentado por indecisão
e com a obesidade em ascensão
um leão de pedra

duelo

era o conflito
que não deixava que as coisas fluissem
esse tal duelo entre o ideal e o real
não dava certo porque não era real
era o idealizado
era o melhor que podia ser
não era natural
era forçado
talvez pra dar um impulso
pegar no tranco
partida inicial
mas não era real
por isso não convencia
queria mas não era
não deixando de ser
era bom
era perto
era sugador
íma
turbo
plus action
a todo vapor
...
não era
mas deu pra perceber
que esta alí
e é 
extraído do real
realizado

da janela é assim

todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
relógio que atrasa também adianta
remédio que cura pode matar
meu corpo é quente e estou sentindo frio
os mortos estão vivos e os vivos estão mortos
pode ser que sim e talvez não seja
me perdi e agora pode ser que me encontre
além da vida e aquém da morte
não se esqueça, ou seja, lembre-se
amanhã pode acontecer tudo e inclusive nada
não concordo inteiramente e não exatamente discordo
em cima do muro e embaixo do toldo

riner maria rilke

"pois arte é infância. arte significa não saber que o mundo já é, e fazer um. não destruir nada que se encontra, mas simplesmente não achar nada pronto. nada mais que possibilidades. nada mais que desejos. e de repente, ser realização, ser verão, ter sol."

carlos drummond de andrade

"Poema de Sete Faces 

Quando nasci, um anjo torto 
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos 
o homem atrás dos óculos e do bigode. 
Meu Deus, por que me abandonaste 
se sabias que eu não era Deus, 
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo 
se eu me chamasse Raimundo 
seria uma rima, não seria uma solução. 
Mundo mundo vasto mundo, 
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer 
mas essa lua 
mas esse conhaque 
botam a gente comovido como o diabo"

metodologia do sapo

viver de primeiras vezes não dá
a vida fica meio nem aqui nem lá
dificil de acreditar

fernando pessoa, trecho do livro do desassossego

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido — sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem veem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

"Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia. A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstração do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo sutilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais.


Retendo, da ciência, somente aquele seu preceito central, de que tudo é sujeito às leis fatais, contra as quais se não reage independentemente, porque reagir é elas terem feito que reagíssemos; e verificando como esse preceito se ajusta ao outro, mais antigo, da divina fatalidade das coisas, abdicamos do esforço como os débeis do entretenimento dos atletas, e curvamo-nos sobre o livro das sensações com um grande escrúpulo de erudição sentida. Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objetividade ao prazer subjetivo da leitura.


Sabemos bem que toda a obra tem que ser imperfeita, e que a menos segura das nossas contemplações estéticas será a daquilo que escrevemos. Mas imperfeito é tudo, nem há poente tão belo que o não pudesse ser mais, ou brisa leve que nos dê sono que não pudesse dar-nos um sono mais calmo ainda. E assim, contempladores iguais das montanhas e das estátuas, gozando os dias como os livros, sonhando tudo, sobretudo, para o converter na nossa íntima substância, faremos também descrições e análises, que, uma vez feitas, passarão a ser coisas alheias, que podemos gozar como se viessem na tarde. Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incômodo. Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para se distrair, sem mais nada.


Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.


Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

trecho do livro hipnose, fato ou fraude? de adriano facioli

"...e o sentimento é isto: o que ainda não tem forma; tudo o que vivemos sem perceber; o que nos dá bolos na garganta, em nossas vísceras, tudo o que diz alguma coisa, o que nos move sem palavras, a voz recolhida e isolada de nossos mais íntimos desejos..."

fernando pessoa

"conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu. reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo. pari meu ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo."

o ser e a miragem (trecho do site quiroga.net, neste dia)

"Um dia você cansa de consultar a sorte e os oráculos, olha para trás e percebe que já percorreu infindáveis caminhos onde aconteceram dores e prazeres. Com a alma cansada, quase exausta, você começa a usar o discernimento e notar que no meio das idas e vindas algo sempre permaneceu e, assim, de repente você sente um chamado que parece vir de longe, mas que está perto, porque é presente, como se viesse de dentro. A vocação é inconfundível porque atualiza emoções que só ela consegue evocar. O profundo sentimento de uma história, muito bela, muito doce, seu coração girando em tudo, participando de órbitas extremas, dançando junto com o Universo numa perfeita coreografia cósmica. Só isso é Ser, o resto é tudo miragem."

t. s. eliot, burnt norton (trecho do livro administração da produção, sistemas e sinteses de martin k. starr)

"o que poderia ter sido é uma abstração
permanecendo uma pérpetua possibilidade
apenas em um mundo de especulação
o que poderia ter sido e o que foi
conduzem a um fim, que está sempre presente
ecos de passos na memória
por caminho que não tomamos
através da porta que nunca abrimos..."

fernando pessoa

"viajar! perder países!
ser outro constantemente,
por a alma não ter raízes
de viver de ver somente!

não pertencer nem a mim! 
ir em frente, ir a seguir
a ausência de ter um fim, 
e a ânsia de o conseguir!

viajar assim é viagem.

mas faço-o sem ter de meu
mais que o sonho da passagem,
o resto é só terra e céu."

ensaio sobre a cegueira (cena do filme dirigido por fernando meirelles com roteiro baseado no livro de jose saramago)

"Tem uma cama sobrando no seu dormitório? Tenho um rádio.

Já não tem tantas estações como antes, mas, se insistem, posso deixá-los a par. Ao menos economizamos bateria.
Nas primeiras 24 horas foram centenas de casos, dizem. Sempre igual, sem dor. Um mar branco. A reação do governo foi, como sabem, decisiva a primeira das quarentenas improvisadas, mas, esse sonatório abandonado dava uma imagem negativa. Não sabiam ainda se a causa era neurológica e durante dias todos acompanharam seminários e mesas-redondas com especialistas do mundo todo, alardeando sua ignorância. Foi publicada em uma revista internacional que era precipitado falarem uma cura, mais pesquisas e mais dinheiro eram necessários. Um argumento que foi ilustrado de forma dramática. Semanas se passaram e com o debate incessante a cidade voltou a rotina normal, alheias aos fatos em toda a parte de que a doença era imune a burocracia. Mas aí, um acidente de ônibus resultou em 23 mortes, no mesmo dia, dois aviões cairam. É dificil dizer se a cegueira era a causa dos acidentes. Todos ficaram apavorados. O pânico espalhou a cegueira ou a cegueira provocou o pânico. As mortes se multiplicaram. Todos decidiram ficar em casa e os problemas de trânsito foram resolvidos. 

Talvez precisemos mesmo de um pouco de música...

E pelo tempo de uma canção o reino dos cegos se espremeu ao redor de uma rádio am. Só podemos imaginar as cabeças inclinadas, os olhos abertos, as lágrimas. Para que perguntar se eram de alegria ou tristeza? Alegria e tristeza não são como óleo e água, elas coexistem."

nascendo e morrendo e nascendo e morrendo ...

o olhar que dissolve o gelo é o mesmo que congela
a linha que separa o sim do não um sopro arrebenta

há um não querer mais que bem querer pairando no ar

morrendo e nascendo a cada piscada
pulsando mesmo que morta

o não veio me visitar

abri a boca e ele entrou
na circulação, logo, mergulhou
apesar de sua dureza particular
com gestos singelos se manifestou
no pensamento fez milagres
sua mensagem transbordou
e o que parecia viagem
realidade se tornou
com calma e tranquilidade
continua sua passagem
à espera do pouso do sim
carregado de bagagem

surpreenda

porque o trivial já não convence...

(trivial: adj. sabido de todos, notório, vulgar, terra-a-terra).

luan duarte

"boa sorte!"

de família

é momento
é vida
é certeza
é fortaleza
é base
é trampolim
é estar
é sentir
é aprender
é realizar
é compartilhar
é agradecer
é lá no fundo, bem no fundo

amor, um fenômeno da consciência humana (trecho de sermons in stones, # 27, por osho)

"(...)
Quando você começa a se relacionar com seres humanos, você tem que levar em consideração que seres humanos não são coisas, são consciências. Você não pode dominá-los - embora quase todo mundo esteja tentando fazer isso e, dessa forma, estragando toda a vida do outro. No momento em que você domina um ser humano, você está criando um inimigo, porque esse ser humano também quer dominar. Você pode chamar isso de amor, pode chamar de amizade, mas por trás da cortina de amizade, amor e fraternidade há um profundo desejo de poder. Você quer dominar, você não quer ser dominado.
Com seres humanos, você estará em constante conflito. Quanto mais próximos vocês estiverem, mais conflito para machucar. Amar um ser humano não é uma coisa fácil. O caso de amor é a coisa mais difícil do mundo pela simples razão de que duas consciências, dois seres vivos, não podem tolerar qualquer tipo de escravidão.
Quando os pais dizem, aos filhos, "Não faça isso!", mesmo uma criança pequena se sente machucada, humilhada, insultada. Amar um ser humano é uma das coisas mais difíceis do mundo, porque no momento em que você começa a mostrar o seu amor, o outro começa a entrar numa viagem de poder. Ele sabe que você é dependente dele ou dela. Você pode ser escravizado - psicologicamente, espiritualmente - e ninguém quer ser um escravo. Mas todos os seus relacionamentos humanos acabam virando uma escravidão.
Todo ser humano tem um direito de nascimento de não ser dominado por ninguém - mas também um dever de nascimento de não tentar dominar ninguém. E só assim a amizade pode florescer.
O amor precisa de uma clareza de visão. O amor precisa de uma limpeza de todas as espécies de coisas feias que estão em sua mente - ciúme, raiva, desejo de dominar.
Como é a sua vida? Tudo parece um problema, tudo se torna um conflito. E a razão é que nós aceitamos uma idéia falsa de que sabemos como amar. Nós não sabemos. Estamos vindo dos animais. Os animais não amam. O amor é um fenômeno muito novo na vida humana. Os animais se reproduzem, mas não se amam. Você não encontrará entre os búfalos, Romeo e Julieta, Laila e Majnu, Shiri e Farhad, Soni e Mahival. Nenhum búfalo está interessado em coisas tão românticas - eles são muito terrenos, eles reproduzem-se - e a natureza está plenamente satisfeita com os búfalos, lembre-se. A natureza pode estar tentando destruir a humanidade, mas a natureza não está tentando destruir os búfalos e os burros e os macacos, não. Eles não são problemas, absolutamente.
O amor é um fenômeno novo que surgiu com a consciência humana. Você terá que aprendê-lo. Pintar belos quadros, criar poesias, esculturas, música, dança - isso está nas suas mãos. Mas quando você entra em contato com um ser humano, você tem que compreender que, do outro lado, está presente o mesmo tipo de consciência. Você tem de ter respeito e dar dignidade à pessoa que você ama . Esta é a razão de você não poder se relacionar com seres humanos. Esqueça tudo sobre os seres humanos e sobre amor - simplesmente medite. Isso irá liberar, em você, o insight, a visão, a claridade, a energia para compartilhar. Amor é um outro nome de se compartilhar a energia abundante. Você tem demais, está carregado dela. Você gostaria de compartilhá-la com as pessoas de quem você gosta. Seu amor - o que você chama de amor - não é um compartilhar, é um esforço para obter algo. Você terá de mudar o significado de amor. Amor não é algo que você tenta ganhar do outro. E essa tem sido toda a história do amor - todo mundo está tentando ganhar amor do outro, tanto quanto possível. Ambos estão tentando ganhar e, naturalmente, ninguém está ganhando nada. Amor não é algo a ser obtido. Amor é algo a ser dado. Mas você só pode dar quando você tem.
Você tem amor dentro de você? Você já se fez essa pergunta? Quando sentado em silêncio, você já observou? Você tem alguma energia de amor para dar?
Você não tem; nem os outros têm. Então você cai em um relacionamento de amor. Ambos fantasiam, fingindo que vão dar ao outro o próprio paraíso. Ambos estão tentando convencer o outro de que "Quando você se casar comigo, as mil e uma noites da Arábia ficarão esquecidas - nossas noites, nossos dias serão todos dourados".
Mas você não sabe que não tem nada a dar. Todas essas coisas que você está dizendo estão relacionadas ao que você quer ganhar. E o outro está fazendo o mesmo. Uma vez casados, então virão os problemas, porque ambos estão esperando as mil e uma noites e nem mesmo uma noite indiana está acontecendo! Então vem uma raiva, uma fúria que, pouco a pouco, se torna venenosa. O amor se transformando em ódio é um fenômeno muito simples, porque todo mundo se sente traído.
O relacionamento humano precisa de compreensão. Minha sugestão é: medite. Torne-se mais e mais silencioso, calmo, tranqüilo. Deixe uma serenidade surgir em você.
Isso lhe ajudará de mil e uma maneiras, não apenas no amor."

máquina registradora

mais uma vez ele bate a minha porta,
ao nascer do sol, com sorrisos e piscadelas,
carregando promessas de sucesso e conquistas.

penso muito,
peço ajuda, opiniões,
busco coragem pra dizer não.

todos dizem para aceitá-lo,
que é a melhor opção,
que traz a tal da dignidade.

se ele é bem gordo,
é visto com bons olhos.
abrem-se portas, pernas,
fecham-se janelas da alma.

é ele quem manda, eu penso.
é quem dita as regras, as escolhas.
eu luto contra, tento, busco, sofro, piro.

e, ao fim do dia,
eu me rendo,
é cruel essa entrega.

choro por ser refém,
por fazer parte de um jogo, de um sistema vil,
num redemoinho de lutas, virando furacão.

essência

dentro de mim, de você, dele e daquele.
misturadas entre eu, você, ele e aquele.
sentida, escondida, protegida, escancarada,
transparece pelos poros, cabelos, é pele, é alma.
tá aqui, tá ali, tá em mim, tá em ti.
é fogo, é agua, é ar, é já,
não há como disfarçar!

quem tem alma pra ver, ler, sentir,
saberá identificar
e estará plenamente,
em mim, em ti, nele e naquele,
não há como fugir!

sou eu, é você, é ele, é aquele.
será eu e você e ele e aquele.
e não deixará de ser
eu em você, você em mim,
ele naquele e aquele nele.
é meiose e não mitose.
é encontro, é troca, é inspiração,
não há como dizer não!

é miolo, é centro, é centelha.
o importante é ser,
é deixar transparecer,
é sentir,
é viver,
é apenas ser!

reflexão

o entendimento da eternidade traz a paciência para viver o instante.

o mundo das crianças

onde um simples graveto é espada,
onde uma folha seca é mar.
olhar é criar formas,
tocar é uma interação animada.
há um sentido que dá sentido a tudo,
imaginado, transformado, visualizado.
colorido e independente,
uma construção simples de folhas, cacos e sonhos.

saudade bandida

eu queria beijar a saudade e despedir-me,
deixando-a uma canção e um adeus.
dizer que as lembranças que ela traz, não fazem bem
e que é cruel ela aparecer toda hora.
eu queria gritar pra saudade, que ela é bandida,
rouba alegria, tempo, brilho e traz lágrimas.
dizer que ela não é bem vinda,
que não quero vê-la nunca mais.
vomitar as palavras que tenho guardadas,
seguidas de um grito de adeus.
mas ela é cega, surda e se esconde onde ninguém a vê.
bandida que é, não recebeu meu beijo e não escutou meu grito,
e ainda, continuamente-sem parar-insistentemente,
vive sussurrando ao meu ouvido.

indo

como folha de jornal ao vento,
como barco sem bússula,
como albatroz planando ao sabor das correntes,
como semente voando pela brisa,
como dente de leão após um sopro de criança,
assim eu vou, assim eu sou...

um

um tempo pra pensar em tudo, pra pensar em nada, pra não fazer nada, pra fazer tudo
uma pausa, um instante, um desligamento, uma trégua, um vácuo
um acerto de contas, um balanço, um planejamento, uma reunião de uma pessoa só
uma conversa de perguntas mudas e respostas silenciosas
um sopro de inércia, longe da gravidade cotidiana que puxa e cega
um caranguejo recolhido, um caramujo dentro de sua concha
uma volta ao início da jornada do herói, de uma utopia, de um mistério, do nascimento avatar
um outro horizonte a desbravar pra lembrar da diferença entre o velho e o novo
uma incerteza excitante e uma certeza encorajadora
uma abstração extraída do real, um sonho, um devaneio consciente
um momento sentido mais do que vivido, uma troca sem perdas
um movimento contínuo, sem altos e baixos, uma linha que une, não divide
um encontro interno entre tantos protagonistas camaradas
uma busca bem sucedida onde todos são o que realmente são, e estão
um admirar mais do que pensar, do que especular, do que duvidar
uma conversa cara a cara com o espelho, pelada, sem máscaras
uma hipnose de seus próprios sentidos, uma regressão sem traumas
um carinho, um abraço, um aperto de mão entre irmãos
uma canção, um balé, uma orquestra em harmonia

sabedoria popular

"o vento e as ondas estão sempre a favor de quem sabe navegar!"

se

se a intensidade fosse recíproca,
não haveriam desencontros e fugas,
haveriam encontros e trocas,
felicidade!

se a intensidade for recíproca,
não haverão desencontros e fugas,
haverão encontros e trocas,
felicidade!

se a intensidade foi recíproca,
não houve desencontros e fugas,
houve encontros e trocas,
felicidade!

luís carlos - LuCAS

"abstrair significa extrair de..."

o que foi

dias e ângulos e cheiros e sorrisos...
vão e vem, vem e vão.
surpresas e idéias e mudanças e suspiros...
vão e vem, vem e vão.
caminhos e elevadores e portas e cafés...
vão e vem, vem e vão.
lembranças e aprendizados e amigos e rabiscos...
vão e vem, vem e não vão.
agora quem vão, sou eus!

paulo leminski

"abrindo um antigo caderno foi que descobri, antigamente eu era eterno."

limite (trecho do livro a era dos direitos de noberto bobbio)

"o problema do fundamento de um direito apresenta-se diferentemente conforme se trate de buscar o fundamento de um direito que se tem, ou de um direito que se gostaria de ter."

vamos conversar?

tudo que é indiscutível, guarda consigo, uma dose de preconceito.

carga (trecho retirado do site quiroga.net, neste dia)

"a dinâmica dos relacionamentos precisa de atualização, porque as pessoas que participam desses mudaram e se transformaram em outras. Porém, como a dinâmica do relacionamento não mudou, elas se sentem limitadas."

2 do 2 de 2009

um dia eu percebi que a semente, lançamos.
um dia eu percebi que vários tipos de pessoas, existem.
um dia eu percebi que as sementes que jogamos no solo, germinam.
um dia eu percebi que as pessoas são como os vários solos que encontramos pelo caminho, cultive!

sabedoria popular

"a liberdade do homem consiste em escolher sua  própria escravidão."

anaïs nin

"a vida encolhe ou expande em proporção a nossa coragem."

opções

...a única saída era fugir, inesperada, banal ou heróicamente, já então e pelo resto de sua vida...

millôr

"quem sorri sempre ou é um idiota total ou tem a dentadura mal ajustada."

paulo leminski

"isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além."

um cara desalmado

na secura de noites frias, procura um corpo quente que o envolva. como um vampiro faminto, vai em várias direções. insatisfeito, procura de uma chama que o incendeie, momentaneamente, junto nele, tão intenso, quase dele.
descrente de valores puritanos, não se apega a nada, só ao seu troféu pulsante e duro, como ele próprio.
a goles e trotes vai seguindo, distribuindo seu charme por onde passa, convencendo, apesar do sangue frio capaz de esfriar qualquer sangue quente. pulsação de gritos internos,
carnes, vísceras, pele, numa devoção de alma inteira...

e você, tem fome de que?

amizade com o tempo

do meu lado,
eu tentarei ser mais paciente.
buscando as idéias,
no seu devido momento,
sem acumular.

do seu lado,
eu espero ser curada pelo esquecimento.
esperançada pelas novidades,
a cada momento,
sem acumular.

palavra de honra dada,
mãos apertadas.
um acordo que inicia,
uma esperança que leva,
um fim que só se espera...

olha, eu não sei, se eram os antigos que diziam...

sou o que posso ser,
não quero me explicar
nem me fazer entender.
uma vontade de chorar, contida.
uma vontade de amar, rejeitada.
um impluso de viver, fraco.

você não me leva a sério,
parece ser fácil de entender
pra você, não pra mim.

li meus sentimentos pra você,
você leu os seus pra mim,
talvez cedo...
sentindo, sigo
sem vontade,
talvez tarde...

com a certeza de que eu tentei,
viver o que dentro de mim nasceu,
mas, não chegou a florescer,
faltou água.

acordei mas ainda sonho

sonhando,
acordei,
aérea,
flutuando,
levitando
nas nuvens...
vertigens,
belo sonho,
belo dia,
bom dia!
sem palavras,
só sorrir...

seguir

sonhei
com ti, 

sentir.
tentei,
não consegui,

perdi,
sofri,
e segui.
mudei,
quero ainda,
e sem ti,

contive.
não perdi,
pelos menos,
aqui,
dentro de mim!

coragem

a hora chega e com ela a insegurança e o frio na barriga também.
as cartas foram embaralhadas e está na minha mão distribuí-las.
eu aposto minhas fichas, na escolha já pensada.
arriscar é uma prova de coragem e onde ela está?
cá dentro a balançar!
frases de incentivo e de medo,
cabeça a mil,
é agora, partiu...

o meu mundo todo não é o mundo todo

você percebe que o seu mundo todo não é o mundo todo quando você conhece outros: motivos, princípios, miolos, origens, gemas, ninhos, nascentes, vertentes, costumes, crenças, ciclos, culturas, horizontes, descendentes, viventes, sobreviventes, criadores...
se somos imagem e semelhança de deus, todos um dia seremos deuses?

imagem e semelhança

um personagem precisa ser encontrado, com forma, cara, sentimento, ideal.
vou buscá-lo dentro e jogá-lo fora,
quem sabe, ele consegue mudar alguma coisa?

meus sentimentos são meus

as vezes como um furacão querem voar, alcançar.
as vezes como um rio querem desenhar, trilhar um caminho.
as vezes com um suspiro, eles chegam de mansinho.
existindo por si só, fiéis, com cores e formas.

posso até querer e torcer para que você encha-se e embriague-se deles,
posso até querer que você sinta completamente a sua essência,
posso até querer que você inspire-se neles,
que você engula, que você entenda, que você aceite-os como presente.

mas, eles continuam sendo meus
e apesar de serem meus,
não são para mim,
e a grande dúvida é se isso faz sentido!

poucos, porém, muitos

imaginei muitos,
interessantes e muitos,
talvez esse seja o impulso, o motivo.

encontrei poucos,
interessantes e poucos,
talvez essa seja a necessidade, a vontade.

pensei,
descobri que são muitos dentro de poucos, gordos.
pensei, de novo,
descobri o impulso da necessidade e o motivo pra vontade,
estou cheia, contenho poucos.

afundar?

eu conheço o seu silencio,
sei muito bem onde começa a fuga.
instantes positivos, negativos
pra onde? foi...

oi, como vai a vida?
breve e leve?
quicando leve, sem aprofundar
opa, mole e afunda, aqui não dá.

na janela é melhor

da janela
vejo
o que há do lado de fora

da janela
vejo
o que há do lado de dentro