toda aquela indiferença

com raiva de sentir
fingindo não notar a vibração
sem encarar
só disfarçar
e calar.


com vontade de não ser
de desaparecer
camuflando nas moitas
escondendo dos olhos
e não das mãos.


sem saber como voltar
pensando em uma saída
pra tal loucura
uma cura
um afago que não cale o choro preso
e muitos suspiros.


desalento
desespero
todas as dúvidas e inseguranças
até o universo conspirando contra
uma heresia
um pecado
toda a culpa.


não há perdão
nem solução
e isso tudo
é pura difamação.


ah! vilão!

ah! meu amor!

o encanto acontece no primeiro ato,
depois,
são só desencantos encantados...

escassez

nessa miséria catávamos as migalhas de algo até então abundante que se misturava aos desejos pouco entendidos. compreendidos de alguma forma entre todos aqueles vestígios encontrados nos lixos alheios. o aterro já estava completamente lotado daquilo que procurávamos insistentemente.


interditado até o encontro acontecer...


estava tudo explícito mas não podíamos citar seu nome...


talvez a saída seja atear fogo...

espreguiçar

dançando porque...
assim fica leve vestir a carapuça.
assim fica mole escorregar pelo ralo.
assim fica mais fácil encarar os fatos.

dançando pois...
expressar os sentimentos, assim, não é atitude fraca.
expandir emoções, assim, é belo.
girar no mesmo ponto, assim, é pura habilidade.

dançando para...
que assim, não corte os pulsos de uma vez.
que assim, chegue nas nuvens com mais frequência.
que assim, meus pés calejados sirvam para alguma coisa.

dançando contudo...
e soltando, assim, o turbilhão no ritmo de oito tons.
e encarando, assim, o que vem pela frente.
e cantando, junto assim, com o que o medo faz esconder.

tão difícil

e quando a hora chega, oras!
chega também a sua intrometida visão raio x
e agora, os percevejos vão voar e não há como controlar...
essa chuva toda é para refrescar e clarear a tela,
para que àquelas ideias que dentro são infalíveis
explodam a vista de todos...
encarando careca e nua,
eu caminharei sem pudores nem vaidades,
porque não dá pra deixar para amanhã.



o tempo passa e nada muda

e tudo assim sempre tão bem,
que aquela dúvida
insiste em persistir...
existe algo verdadeiro?

momentânea

mesmo que sem conectivos
soluços
mesmo que longe
perto
mesmo que incerto
certo
mesmo que não assim
de alguma maneira
...enfim...