Três

De repente três:
dias sem sono,
perdidos sonhos,
terremotos carnais.

De repente três
partes desiguais
do tudo mais.

De repente eu
e nada mais.

Sim

Queria me encontrar com tempo
O tempo todo que perco
Quando não estou.

Desculpar-me pela covardia
Do não dizer, do não fazer
Quando em fuga.

Escancarar meus medos
E perde-los dizendo sim
Quando no embalo.

Da luta...

Trágico é que o tempo bate a porta,
os medos se personificam,
os traumas de outras mulheres aparecem em mim
e eu sigo triste...
mas de alguma maneira feliz,
pela consciência humana da luta.

Cores e sabores

Segunda beira a terça feira
e ainda cheira a feira
de domingo cheia.

Sofrida mania

Perdeu os óculos
em meio aos sonhos
racionalizados pela mão
que tudo lê.

Guardou as bandeiras e também os cartazes,
projeções do nunca - sem flor, frutos, direitos
(sentimento desnecessário e indigno de calor).

Esquentou os pães e os dedos
no sempre rigoroso inverno
e vive a lembrar da paz
que um dia roubou.

Um café, um cafuné

Imaginar o que é
viver como der
sem sentido sentir.

O amor é carnal

Pra te contradizer
Eu fiz uma canção
Com formas arredondadas
E pontas agudas

Paradoxos da insensatez
Que é pensar
Te perder algum dia

Como a vida é dor
E a falta de sexo dos anjos
É mentira.

Cora Coralina

"Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista.
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher tudo fácil.
Antes acreditar do que duvidar"

"Venho do século passado e trago comigo todas as idades"

De pé a pé

Onde e porque eu não sei
tantas coisas
barulhos, conversas
ruas tortas, calles torcidas
entrecorte

Já não estou lá
e aqui já não é mais aqui
veias mortas
pé que não pára
pé que que não escapa
linhas curtas
curvas certas
chão, imensidão

Mudernidade

Uma pimenta com gosto áspero
nem óculos protege
tal gosto trágico

Desconcertante imagem arregalada
entre monstros e francesas
doçura em ponto de embalo

Malícia e quarentena
sinapses moleculares
rápida explosão online

Adaptações imprecionantes
entre riscos e rabiscos
num carro envenenado

Sorrisos livres e colantes beijos
mania de sim entre sorvetes
ensolarados
enluarados
e rebolados.

Num sopro

Embala a saia igual cirandeira
Curva as costas e quase fraqueja
Aspira a fumaça e logo esbraveja
Encontra um osso e quebra a cabeça
Rasteja no chão feito uma lesma.

Não sabe
Não sabe

Versos malvados e inchados joelhos
Mentira escancarada de vida inventada
É noite acordada é dia embolado
Resposta falseada verdade aceita
Baila baila e depois fala.

Não sabe
Não sabe
Vítima
Do conto poema.

Pablo Neruda

"Foi nessa idade que a poesia veio me buscar
Não sei de onde veio
Do inverno, de um rio.
Não sei como, nem quando.
Não, não eram vozes.
Nem eram palavras.
Nem silêncio.
Mas da rua fui convocado.
Dos galhos da noite abruptamente entre outros.
Entre fogos violentos voltando sozinho.
Lá estava eu sem rosto.
E fui tocado."

Tudo ao contrário

Te falei o que não pensava
Pra dizer o que não pensei
Tudo no perfeito momento
Não encontrado
dentro do espaço que não cabia.