Sei lá

Quando como ontem
Descartei  papel
Que sujo
Não me dizia que seria
Algo linda
Coisa rara
Vou dormir
Já não caibo
Mais aqui

Escombros

Pra ir a China ou a Moçambique
Nos resta a curva de algo tão ingrime

Borbulhas, fagulhas
Pedaços de um pulo
Bonito, expansivo em tudo
Que revertia escombros
Tal qual partia.

Não quero

Se assim tu querias
não me resta alternativa
se não a renúncia.

Te disse em entrelinhas
todas as verdades ocultas,
performances do sim
memórias não fluidas.

Ontem

Extrapolei o fluxo do céu
e experimentei o que não era agradável.

Na cadência torta do não prosseguir.
Sei lá. Amanhã tenho que trabalhar.

Cantoria

Paro o tempo
sou bem te vi

Me engrandeço com o passar dos segundos
dilato sofreguidão da contramão
quando subo furacão

Ao planar sou brisa
expandida de ausência
nuvem em formação

Pra descer tempestade
extrapolo a atmosfera
e caio feito pena

Me perco no contar das idas e vindas
pela tentativa corajosa de ser prosa
onde tudo é sempre poesia.

Trilha partida

Sem chão
Não é possível união

Caminhos do desprazer, do desamor
Final de toda cor

Não há saudade
Bate forte um peito que arde
Na contramão.

É caminho sem volta.

Poesia contemporânea

As palavras ditas nas ruas
conversas dizidas
nas poesias, canções.

Tamo ae com as coisa
Por que você não coloca pontuação nas frases?

Estações do giro que a terra dá
noite sem lua
promessa de uma nova era
a maré muda
é tempo de regar ideias

O sorriso aberto
por uma declaração
de afeto

Como um extraterrestre
você fala com conhecimento
mas nos conhecemos ontem

Processos

Talvez soubesse
Mas não quisesse
Subverter processos
E seus fins estabelecidos.

Se quisesse
Talvez tivesse
- Convencimentos!
De que pudesse
Caso houvesse.

Estabelecida nostalgia
Como queixa contínua
Em folhas sem linhas.

Teimava valentia
Com bico tristonho
Escondido entrelinhas.

Era um bobo
Um tolo
Um conformado.

Era um bolo
De côco
Um bombucado.

Eu poderia ceder
Me desmanchar
Me desfazer
Mas nasci em tempos
- De estrelas no espaço!
E não ouso
Baixar a cabeça ou a voz
É luta nas ruas e nos lençóis.

Estrelas

Lua cheia
Cai do céu uma lágrima
Escorre em mim.

Sei tão mal manipular estrelas
Pedaços meus não se reciclam
E sinto desgosto ao comer.

Meu ciclo lunar não me deixa descansar
Renovo escolhas antes de acordar
Nosso ciclo solar não me deixa cochilar

Pipas voam no céu da cidade
Pássaros no campo a cantar
Tudo assim descompensado
Tempo vadio corre no ar.

Confusões e contradições
Marcam meu caminhar
Salto pedras
Escorro nas encostas
Sou poeta
Escrevo pra curar.

Tenho asas à pulsar
Chuva molha
E impulsiona o despertar

Quero dormir
Tenho escondidos
Desejos de liberdade

Palavra mais bela que conheço
E nem consigo suspirar
Apreensão vem do regozijo
De não conseguir mais conformar

Os pinos marcados
As vitórias perdidas
Os amores partidos
Os preconceitos sofridos
As partes mutiladas
As censuras nas esquinas

Os conceitos revistos
As ideias fortalecidas
Os olhares amadurecidos
As esquinas aguerridas
As lutas debatidas
A ocupação dos caminhos.

Segue transeunte, não se faça perdido.
Explode na avenida um horizonte expandido.