envolvimento

que o dom de compartilhar,
se espalhe feito poeira.
corra os céus,
entre nos pulmões,
inspire os corações,
cause emoções,
crie espirros
e transforme
solidão em união
e solução.

a paz

há de haver um dia se quer,
que as sensações que saciam os desejos,
durem mais que um simples momento.
e nesse dia, o meu maior desejo
será estar acolhida em seu peito!

fraqueza?

jamais confunda educação e gentileza com fraqueza.

joão braz

"cruzar os braços - não!
antes erguê-los para o céu
no gesto inútil de agarrar estrelas!

antes abaixá-los, amparando neles
os que tombam, varados pela dor;
antes de abrí-los para um possível
e fraterno abraço ao mundo
e acolher todos os oprimidos,
todos os deserdados e todos os famintos
de todos os cantos da terra!

tudo - menos cruzar os braços
indiferentes e inúteis
para a necessidade de construir
o novo mundo que há de vir
justificar os sonhos dos poetas
e as lutas dos iluminados
que morrem por uma idéia!"

você achou que sairia ileso dessa, caro poeta?

incrivelmente acordei, hoje, mais leve,
aquele peso que carregava até ontem,
que não era meu,
foi devolvido ao seu devido lugar.
carrego agora,
dentro da mochila em minhas costas,
as coisas e os desejos,
que mais tenho apreço.
e é tudo que preciso,
nada mais.

realidade é superfície

eu não tenho pressa,
estou serena à bessa,
nesse dia que acelera.
ele pede intensidade
e eu faço cera,
ao sabor do vento.
tempo amigo,
ando tentando,
entender seus momentos.

para que tanta luta?

é incrível, a capacidade que as pessoas tem de transferir a culpa que sentem. deve ser da natureza humana, o ato da covardia. é mais fácil, porém, não mais simples, colocar a culpa no sistema, no todo, amortecendo a potencialidade do indivíduo. De que vale tentarmos, todos os momentos, sermos notados por nossas diferentes características, se quando a hora da revelação chega, ou seja, da sua expressão, o ato da covardia é a saída mais usada.

conversa de liquidificador

masoquismo? sentimento de inferioridade? carência? mutilação? é muito cruel, não tenho mais forças pra seguir nessa guerra perdida, entrego minhas armas, meus sonhos, meus carinhos, minhas incertezas, meus desejos, minha esperança e não quero mais beijos e nem versos. não vejo opções nem soluções nem caminhos, nada pra mim. é difícil compreentender o escuro, que é claro aos meus olhos. preparo-me para mais uma guerra interior, na qual, precisarei vencer para viver melhor. fazer das lágrimas ensinamentos e guardar na memória pra não esquecer o sofrimento. eu choro, como a muito tempo não fazia, aliviando meu peito dolorido, que está cheio e cansado. "se você não pode ser forte, seja pelo menos humana". desista. me ajuda?

se eu ajudar, pode ser que desista também, às voltas das ondas emotivas e concordante com os lamentos. assim, seremos dois desistentes, que abandonam o barco na metade do caminho, quer dizer, em alguma parte do caminho. seres humanos carregando o peso da culpa em suas pernas."todo mundo é parecido quando sente dor"?

o que acabou de acontecer foi um tropeço, um profundo lamento, que lentamente transcorreu. o caminho calçado, foi passeado por pés, também calçados, com botinas de solados duros. difícil é lembrar e compreender que o tempo estica e o espaço ocupado é consequência e sentença. és responsável por tudo aquilo,"mas, quem tem coragem de ouvir?"  

você achou que seria fácil? resolvendo com a agilidade de uma lebre, dizendo que seria mole e de tão mole, que foi,  confundiu os olhares, surpreendeu os envolvidos e empoeirou os passos dados. houve um convencimento momentâneo, num apático seguir. a mais fácil e óbvia, a que estava escancarada. à que mais brilhava. já não era necessário, naquele momento, para você, "ouvir amanhecer o pensamento."  

no depósito

eu guardo
segredo
lembrança
desejo

eu guardo
no peito
no sonho
no jeito

eu guardo
pra mim
pra você
pra gente

eu guardo
porquê?
pra quando?
até quando?

segredo no peito pra mim, porquê?
lembrança no sonho pra você, pra quando?
desejo no jeito pra gente, até quando?
eu guardo, eu guardo, eu guardo, eu guardo