nada mais

a luz fraca de agora
clareia outros sentidos
e o carinho redobrado
e o caminho desdobrado
revela minha devoção
meu coração é todo seu
e nada mais importa.

sem saber...

tantas linhas e continuo sem saber escrever.

notícias de uma briga particular

quanto mais tenho domínio sobre a realidade que me rodeia, mais longe estou dela.

castro alves

o navio negreiro

stamos em pleno mar... doudo no espaço
brinca o luar - dourada borboleta;
e as vagas após ele correm... cansam
como turba de infantes inquieta.

stamos em pleno mar... do firmamento
os astros saltam como espumas de ouro...
o mar em troca acende as ardentias,
- constelações do líquido tesouro...

stamos em pleno mar... dois infinitos
ali se estreitam num abraço insano,
azuis, dourados, plácidos, sublimes...
qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

não carrego a lua nova na mão

levo um abraço pra capital
pacote de esperança
vanguarda de sonhos
e lamentos
para que assim
lavremos na nossa terra
os fetos mortos
de nossos pais.

a cada ponto de partida

de um estado pra outro
de um mundo a outro
um sonho noutro sonho.

não querendo sair dalí
inconscientemente
relaxo por ainda ter meia hora.

um amor eterno
que colhe pistas
e descobre horizontes.

assim
num pulo
já aqui
dentro de tudo que cabe em mim
suspiros.

onde me levará essa louca brincadeira?

e a vida brinca
faz bagunça
esconde as peças do jogo.

e com a mesma rapidez que tira
dá bônus de sorte
continue...

o que temos para hoje

pode fazer associações livremente
mas por favor
não deturpe o que digo
a partir
do momento que você diz
as palavras passam a ser suas.

hilda hilst

PRELÚDIOS INTENSOS PARA OS DESMEMORIADOS DO AMOR

I

Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura de desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute

Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jugo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. de delicadeza