é quando descubro toda a bondade

confesso que fui ao céu quando conversamos. me apaixonei quando escutei suas primeiras palavras de compreensão e aceitação. ver seus olhos brilharem com minhas ideias e ainda complementá-las com as suas foi realmente encorajador. confesso que sonho alto, mas sou fraca e meus atos mostram falhas ancestrais. confesso que nosso pacto foi um alívio, uma forma de protestar contra mim mesma. um clamor de esperança em dias melhores não só pra mim. confesso que as piores lembranças vem das melhores e por isso vou em frente nessas longas noites de inverno.

dá o mote, poeta!

dentro da solidão que tanto falas
fecho o rico peito e vou com pesar
olho em volta toda essa discórdia
que insiste malvadamente se instalar.

vem a raiva inimiga dos tontos calmos
pega carona senta na janela e pede um atalho
salta na esquina do longo engarrafamento
deixa meu rumo sem um pingo de paradeiro.

dias tristes estes do solitário
que se engasga em goles de fogo alto
sopra fumaças verdes de enxofre
finge inconsciente que é o rei da corte.

isso não é drama tampouco gana

queima o peito tal qual a fama
é inconsequente feito adolescente
tem a alma dos sobreviventes.

bailarei altas horas sem temer que seja em vão

entre as palavras ditas com gratidão
e as súplicas por um pouco de mansidão
minhas fraquesas encobertas por rugas na face
não me esquivarão de tal provação.


dias virão antes que eu me programe
e eu serei tudo o que organizei até hoje
com a certeza incerta de estar onde estou
da mesma maneira que ontem escolhi não estar.


basta soltar um arroto voluntário para que tudo se desfaça

e um pouco de surpresa para que me sinta uma fortaleza
as cordas de outrora apoiarão meus pés trêmulos dessa ocasião
e os suspiros não tão cedo me aliviarão.


a luta segue pelos barrancos que meus impulsos escolheram

e o futuro de ontem já é o então.

mofo

algo me segura
e me aprofunda
diante de fatos
e outros passos.
dormir e acordar
ruminar e vomitar
espera de anteontem
ainda hoje.
recordações
projeções
montão de lixo
amontoado.
tem latinha aí?
deixa que eu amasso.

... já anuncia o trovão

sem fogos de artificio
nem algodão doce colorido
no céu vejo o real arrepio
desse frio espinhal.

na cadênia forte
dessas nuvens carregadas
sopra choro, venta frio
muito mais que calafrio.

é melhor chorar
é melhor chorar
e muito soluçar
chegará qual raio...