sementes que brotam

fui resgatada do fundo do baú
entre os dedos trouxe comigo
um papelzinho bem amassado
esquecido rabisco inacabado

enroscada num galho forte
me apresentei amarelada
diante da frondosa árvore
conhecida fonte geradora

molhada pela genuína inspiração
mesmo sem muita força pra sugar
fui nutrida de pulsão de vida
e consegui abrir os dedos

manifestação

lancei pelas janelas pétalas de jasmim
e costurei os galhos com fitas brancas
iguais daquelas esvoaçadas linhas de algodão
rasgando seda por aí...

o passado bate a porta

pensei em te contar meu segredo
aquele que guardo de mim mesmo
e só encaro de luzes apagadas
e olhos fechados.

te encarei buscando uma abertura
que encorajasse tal loucura
um pensamento juvenil
protesto em marcha.

sem resposta ou incentivo
notei entre as rugas
pequenas gotículas de água
suor lavado em lágrimas.

aliviei-me no branco da mente
viajei com a postura ereta
e fui encontrada pelas lembranças
esquecida poeria embaixo do sofá.

soprei fortemente e acabei inalando-a
causando espirros incontroláveis
alergia minha entre ácaros
tonteira de pressão baixa.

zonza gritei quase inconsciente
frases feitas de poetas anônimos
e senti-me representada
confiei na bondade dos desconhecidos.

quando a campainha tocou
devagar divaguei até a porta
e o olho mágico me revelou
o que não tem mistério.

entendi que meu segredo escancarado
não precisa de definições e afins
esta claramente pintado
em cores que eu não sei o nome
e que dizem muito por mim.

o blues é assim, baby

eu tentei inúmeras maneiras
coexistir com aquele sentimento
mas não deu
tive que matar-me.