baudelaire, c. in: pequenos poemas em prosa

"as janelas

aquele que olha de fora através de uma janela aberta não vê nunca tantas coisas quanto aquele que olha uma janela fechada. não há objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais radiante que uma janela iluminada por uma candeia. o que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante que o que se passa por detrás de uma vidraça. neste buraco negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre a vida.

para além do ondular dos telhados, avisto uma mulher madura, já com rugas, pobre, sempre debruçada sobre alguma coisa, e que nunca sai. com seu rosto, com sua roupa, com seu gesto, com quase nada refiz a história desta mulher, ou melhor, sua lenda, e por vezes a conto a mim mesmo chorando.

tivesse sido um pobre velho homem, teria refeito a sua com igual facilidade.

e me deito, feliz por ter vivido e sofrido em outros que não eu mesmo.

vocês talvez me digam: "tem certeza de que esta lenda é verdadeira?" que importa o que possa ser a realidade situada fora de mim, se me ajudou a viver, a sentir que sou e o que sou?"

albert einstein

"o milagre da vida

pode ser que um dia deixemos de nos falar...
mas, enquanto houver amizade,
faremos as pazes de novo.

pode ser que um dia o tempo passe...

mas, se a amizade permanecer,
um de outro se há-de lembrar.

pode ser que um dia nos afastemos...

mas, se formos amigos de verdade,  

a amizade nos reaproximará.

pode ser que um dia não mais existamos...

mas, se ainda sobrar amizade,
nasceremos de novo, um para o outro.

pode ser que um dia tudo acabe...

mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
cada vez de forma diferente.
sendo único e inesquecível cada momento
que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

há duas formas para viver a sua vida:

uma é acreditar que não existe milagre.  

a outra é acreditar que todas as coisas são um milagre."

é tempo de ser sonhador

e tudo assim tão perfeito,
continha um pedaço do tempo,
que trazia um novo recomeço...
com as cartas novamente embaralhadas
e os dados jogados,
naquele retângulo,
exigindo, até agora, muita esperança.

e tudo assim com movimento,
continha um certo desprendimento,
que trazia um novo recomeço...
com a poeira novamente levantada
e os móveis reposicionados,
naquele corredor,
exigindo, até então, muito ânimo.

e tudo assim tão calculado,
continha uma dose de desasossego,
que traduzia um novo recomeço...
com as roupas novamente lavadas
e o corpo perfumado,
naquele ambiente,
exigindo, com alegria, uma certa redundância.

e eu emocionada com o primeiro fio de cabelo branco

... parece que as ondas emotivas são desencadeadas pela realidade nua e crua. emoções que são camufladas pela correria do dia à dia e que se revelam nos momentos de calmaria. àqueles momentos destinados ao prazer, tornam-se forçados e de certa maneira fingidos. o tom pastel e a intensidade fraca, revelam que foi misturada água naquele balde cheio de algo até então puro. as tentativas de trocas, substituições, misturas e até as transformações são sinais de que o sentimento está entranhado. o que fazer com sentimentos tão meus, não é o questionamento atual, pois, a resposta já foi recebida e continua sendo mau digerida em doses diárias, iniciadas por uma forte asia. o que fica marcado por essas ondas que vem e vão, é uma única sensação que está mesmo longe de qualquer razão, apesar de diluída por ela.

eu fiz suco de caju!

e muitos já passaram e eu ainda continuo aqui... te esperando... não precisa chorar, eu te espero... tendendo pro lado esquerdo... bem, que eu tenho todos os planos esfumaçados, falta rabiscar... até quando a primavera chegar... eu rabisco.

um salvador dalí, logo alí...

eu queria dizer saudade...
e disse vaidade...
eu sussurrei leviandade...
e calei cumplicidade...
gritando silêncio...