vontade

ideia que atormenta,
desejo que enlouquece,
doença que domina,
impulso que...
por vezes realiza, noutras não.

sem danos permanentes

incrível essa capacidade de entender,
ou, pelo menos, tentar compreender o outro,
qualidade bonita de ver, de ter...
a tríplice aliança começa e se formar,
entre eu, você e nós.
o raro começa a florescer em nossos peitos,
a chuva alimenta e o sol faz crescer,
brilhando o reflexo de um no outro.
como é bom misturar temperos,
carregar de verdade a voz,
acompanhar o olhar, 
suspirar ao toque,
arranhar o ar com gargalhadas emolduradas por aspas.
emocionar-se com retribuições, inundamento...
dançar na cadência de um rock'roll progressivo,
em um palco romantizado com orquestra sinfônica.
filmamos nossas cenas, encenamos bobos,
querendo o querer, compartilhamo-nos.
com o risco displicente de deixar-nos seduzir.

a equilibrista

na janela,
venta forte,
muito forte,
venta...

o marinheiro solitário

nesse dia branco,
de céu nublado 
e mar mexido,
as ondas estão caudalosas.
o barco ao mar,
sobe e desce
e a carcaça encouraçada,
fura em cada sequência, as sete ondas.
o porto não vejo,
as nuvens nebulosas encobrem minha visão,
uso a intuição cadênciada pelo mar,
para guiar. 
meus suspiros vem da paz de seguir
e o medo é a impulsão,
em alto mar é preciso precaução!
o timão em minhas mãos,
eu movo concentrado no silêncio,
que vem do interior.
a embarcação,
segue o rumo
e concebe o mundo,
e eu, pulso...

não ache

sozinha sou uma,
com você sou outra,
e assim por diante.
não que eu seja reativa,
não serei,
nem terei sido,
quando quiseres.
estarei quando me convir,
e serei sempre,
uma pausa do que construí.
quando estivermos num ato,
não será falho,
nem trocável,
terá sido.
não adianta querer,
não me conheces para isso.

brincar

e se esse for o caso,
de fugir do acaso,
talvez seja fácil.
estar em um laço,
com mil voltas de embaraço,
sem saber qual próximo passo.
insegurança de seguir,
como quando se viaja,
pra um horizonte nunca avistado.
a instiga movimenta
os anseios resgatados,
molha a terra,
cuida do nada,
pra que se faça notado.
o atrevimento partilha,
o que nem sequer existe,
e tem força realizável.
uma pausa de mil compassos,
faz do caminho, vida toda.

um tributo ao amor

"é preciso sofrer depois de haver sofrido,
e amar, e mais amar, depois de haver amado."
guimarães passos

"amor é o rio claro das delícias que atravessa o deserto, a veiga, o prado, e o mundo todo tem!
que importa ao viajor que a sede abrasa, que quer banhar-se nessas águas claras, ser aqui ou além?"
cassimiro de abreu

"amor é vida; é ter constantemente
alma, sentidos, coração - abertos
ao grande, ao belo; é ser capaz de extremos,
de altas virtudes, té capaz de crimes!
compreender o infinito, a imensidade
e a natureza e Deus; gostar dos campos;
de aves, flores, murmúrios solitários;
buscar tristeza, a soledade, o êrmo,
e ter o coração em riso e festa;
e à branda festa e ao riso da nossa alma
fontes de pranto intercalar sem custo;
conhecer o prazer e a desventura
no mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
o ditoso, o missérrimo dos entes:
isso é amor, e desse amor se morre!"
gonçalves dias

"o melhor dos amores dura um dia
ou pouco mais; neste pequeno espaço
todo ele cabe, todo se irradia
sem tristezas, sem pausas, sem cansaço."
alberto de oliveira

"o amor faz monossílabicos; não gasta
o tempo com análises compridas;
nem é próprio de boca amante e casta
um chuveiro de frases estendidas;
um volver d'olhos lânguidos nos basta
a conhecer as chamas comprimidas;
coração que discorre e faz estilo
tem as chaves por dentro e está tranquilo."
machado de assis

"quem ama traz no peito uma ferida;
nem sempre o amor é rosa de vergel;
quem ama sabe quanto custa a vida!"
tomaz lopes

"fechar ao mal de amor nossa alma adormecida
é dormir sem sonhar, é viver sem ter vida."
menotti del pícchia

"meu amor, este amor que me mata,
de minha'alma no seio profundo,
traduzindo o silêncio dos astros,
encerrando a grandeza do mundo,
- é o orgulho da vaga empolada,
que se julga mais rica e ditosa
de embalar uma lágrima d'anjo
no batel de uma folha de rosa."
tobias barreto

"tu, só tu, puro amor, despir pudeste
de estúpida bruteza a humana espécie;
só tu soubeste unir em firmes laços
os dispersos humanos!"
souza caldas

"quem ama sempre, um dia
deixa de ser amado;
somente o amor que foge
não é abandonado..."
vicente de carvalho