trecho do livro não apresse o rio, ele corre sozinho por barry stevens

"a luz do meu abajur brilha sobre a máquina de escrever, um brilho azulado, que some no escuro quando se afasta da lâmpada. a sombra do carro da máquina move-se para esse escuro, e depois foge. a luzinha quadrada que mostra que o motor está funcionando (como se eu não pudesse ouvi-lo - e mesmo que não tivesse ouvidos, posso sentir as vibrações) é cor de laranja forte, mais berrante do que a própria máquina. mãos tocando teclas. quando noto esse toque, as minhas mãos ficam mais suaves do que estavam, mais gentis, usando apenas a pressão necessária para acionar as teclas, e não mais, e assim não há reação contra mim mesma. parece mais uma música. eu me sinto em harmonia. até mesmo as batidas das teclas contra o rolo parecem mais macias quando eu amoleço, menos resistentes. a ondulação que passa pelo meu corpo e pelo meu rosto é algo que se faz sentir como riso - não riso forte -, um riso suave, como uma pluma. eu sou o meu próprio fazer."