david mourão ferreira

"no barco sem ninguem, anônimo e vazio,
ficamos nós os dois, parados, de mão dada...
como podem só dois governar um navio?
melhor é desistir e não fazermos nada!

sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornam-nos reais, e de madeira, à proa...
figuras de legenda... olhos vagos, perdidos...
por entre nossas mãos, o verde mar se escoa...

aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longíqua miragem...
aonde iremos ter? - com frutos e pecado, se justifica, embora, a secreta viagem!"