...rosas amarelas e vermelhas, também

contornou uma falta de dedos
e daquelas mãos enrrugadas pelo tempo,
recebeu as bençãos e unções da passagem,
e deu sua mão de apoio àquelas pernas, ainda firmes.

clareou os ouvidos e olhos e assim,
enxergou-se refletida naquela água turva e escura,
depositou e embalou aquelas pétalas amarelas,
empurrou-as ao horizonte.

pensou no futuro,
percebia-se uma mulher
com a magnitude de harmonizar
e deixou o vento passar.

abraçada àqueles galhos cheios de espinhos,
que não machucavam mais,
percebeu que as palavras não cabiam ao momento,
a interação acontecia de outras maneiras.

expandiu-se em energia amarela,
tinha um sol brando dentro de si
e nuvens no céu que refletiam-na,
percebeu-se compreendida.

estava contida naquela antiga roseira,
era um galho com espinhos também,
misturada naquele emaranhado,
pendia para baixo e pensava na sua extremidade frágil,
reconhecia-se.

entendia sua fuga anos antes,
compreendia seu impulso impensado,
lembrava de momentos da infância,
sentia certa culpa pelo abandono,
sabia que era, na verdade, uma guardiã.

relembrou que é amarela desde criança,
e sorriu ao pensar no passado
e naquelas histórias desgastadas,
sentiu carinho.

viu uma tragédia e imaginou-se no caminho certo,
tinha claridade nas idéias,
estava pronta, reconheceu suas verdades,
liberou seu olhar ao belo,
estava cansada de determinismos,
questionou com calma e brandura,
expressou o seu eu,
pediu libertação e libertou-se.

emaranhada naqueles espinhos tão meus.