as lágrimas nas costas

fiquei à sombra de um caos incorporado,
quando puxei meu próprio tapete, tentando me esconder.
caída, busquei desculpas que me fizessem não crer 
e fechei meu peito com cadeado de chumbo,
enganando-me, assim, antes de tudo.

pra sobreviver, alimentei-me de restos ditos sinceros
e sabotei minhas mãos com luvas de latex.
sem sentir, afundei-me e escorregadia fui bem fundo nessa lama,
até já não respirar e nem sentir as pernas.
anulei meu gozo na tentativa inútil e burra
de confiscar meu poder de viver, o amor.

e hoje, revejo meus erros, em tons cinzas, de outros espelhos,
relembro dores, sinto-as novamente, e agora, encaro-as com certa folga.
curvo minhas costas, que de cansada, chora
e revejo que não fui o que realmente queria ser.
descubro os véus que me esconderam de mim
e tento, nesse momento, regar em meu peito, aquilo que um dia, quase matei.